Ostras, Historias do Mar
Ostras, histórias do Mar
Exposição Fotográfica Virtual de Nilva Damian e Sandra Puente
Falar de ostras no Brasil, nos remete a Santa Catarina. Falar de ostras em Santa Catarina já nos leva para as comunidades de maior cultivo na ilha de Florianópolis, como a do sul da ilha no Ribeirão, e norte da ilha de Sato Antônio de Lisboa e Sambaqui.
Essas comunidades descobriram no cultivo das ostras da qual poderiam tirar seus sustentos e não depender somente do pescado. Os que vivem do cultivo das ostras não são chamados de pescadores e sim, maricultores. Criaram, por tanto, uma recente cultura que começou em meados dos anos 80, mas que já tem festa própria , a “Fenaostra” e muitas histórias para serem contadas.
Podemos conferir agora algumas destas histórias vividas pelas pioneiras Rita de Cassia, que é maricultora no Ribeirão da Ilha e Gioconda L. Rosito, maricultora de Santo Antônio de Lisboa.
RITA DE CASSIA RODRIGUES – ORGULHO DE SER MARICULTORA
Sou maricultora aqui no Ribeirão da ilha, comecei a cultivar ostras no ano de 2000, quando ainda era farmacêutica. Cismei de fazer um curso na EPAGRI, na época, para aprender a cultivar ostras.
No início comprei 30 mil sementinhas. Naquela época eu era ainda meio “perua”, ía para beira da praia toda “estilosa”, chapéu e shortinho curto. Eu era jovem ainda. Estas 30 mil sementes eu trabalhava sozinha. Todo trabalho pesado que era feito pelos homens, eu fazia. Naquela época eu era olhada com certa desconfiança, pois era arrumadinha, era mulher, não existia mulher na atividade. Lembro somente de mim e da Gioconda, que trabalhava sozinha e que não tinha um marido ajudando por traz desta atividade. A compra do produto, da semente, era em nosso nome. A nossa fazenda era nossa, não era dos “maridos”. E isso para as pessoas entenderem era muito diferenciado, o preconceito ainda era muito grande por parte dos homens, não só da maricultura, mas por alguns extensionistas, pelos órgãos envolvidos na atividade. Olhavam com certa desconfiança para uma mulher produtora de ostras.
No ano seguinte eu coloquei 50mil sementes e trabalhei sozinha. Eu tinha uma batera de madeira e ía de remo com uma verga de bambu. No meu cultivo eu suspendia as lanternas, trabalhava geralmente com 10 a 12 lanternas por dia, pois a quantidade era pequena. Só que é assim, tu coloca a sementinha na água, tu cuida da sementinha e ela vai crescendo. Como era pouca coisa e, o amor envolvido era muito grande, era uma quantidade pequena , o bicho crescia e aí tinha que arrumar um comprador. O meu primeiro comprador foi um produtor de ostras, lá do norte da ilha, o Nei Nolli. Depois vendi para uma rapaz, um paulista que já veio a falecer, e também entregava para dois bares. Então minhas primeiras sementes de ostras que eu mesma cultivei, as minhas 30mil, depois minhas 50 mil, eu vendia para estas pessoas. No terceiro ano eu coloquei 80mil sementes.
Eu cismei de cultivar 250mil sementes para poder concorrer a um sorteio para ir para França, pois para você ir para França você teria que ter no mínimo 250mil sementes compradas. Então para minha surpresa, fui sorteada! Para visitar a “Escola do Mar” no “ Lycée de la Mer et du Littoral em Bourcefranc“, do lado do Atlântico da França.
Fiquei lá durante 30 dias, fiz muitos amigos, que são meus amigos até hoje. Fui reconhecida e recebida muito bem como maricultora na França. E isso é uma coisa que me enaltece, que me deixa muito feliz, porque hoje, 20 anos depois, eu sou reconhecida como maricultora e não como farmacêutica. A minha profissão de farmacêutica ficou lá para trás. Hoje me orgulho de ser maricultora!
GIOCONDA ROSITO – MULHER E PIONEIRA NA MARICULTURA
“A ostra é toda uma história de vida para mim.
Eu voltei da Alemanha na década de 80, deixei minha família lá e vim para cá, porque tinha uma ideia de trabalhar com pessoas, com a natureza e com as mãos. E tudo isso eu consegui aqui no cantinho das ostras.
Em um aniversário, uma pessoa me falou sobre o cultivo de ostras que estava em estudo na universidade. Pensei: “Aí tem tudo que eu quero: natureza, pessoas e trabalho com as mãos”.
A ostra para mim é uma coisa muito especial, é um trabalho de muita rotina, não é para todo mundo. Tem que gostar e tem que entender, tem que lidar com as pessoas e com o público.
Tem que gostar desta coisa pequeninha, mas que também é muito grande. Ela precisa de muita água e nós temos que ser os guardiões da água para que ela tenha uma qualidade para se desenvolver. Quando você vê uma ostra que cresceu é muito lindo! Todo ano, quando a ostra cresce é lindo! É como uma flor que renasce todo ano. É realmente muito bonito!
O cultivo em si e o bar, me dão a oportunidade de encontrar pessoas que jamais imaginei na vida. São pessoas simples, pessoas cultas, pessoas com histórias de vida e com conhecimentos que eu nunca pensei em ter. Essa troca de informação e de energia faz muito bem.
Esse contato com a ostra me fez conhecer outros lugares. Já fui convidada para ir para França, em outra ocasião fui pelo Slowfood, duas vezes para Torino e lá encontrei ostras da Holanda, da Bélgica, todo um mundo diferente, pessoas diferentes e comidas diferentes. Fiz o curso promovido pela UFSC, com o governo italiano e pelo Slowfood. A gente verificar que todo mundo tem um conhecimento muito bom, também nos faz muito bem e nos faz bem saber que o Brasil não é pouca coisa. E conhecer estas pessoas e trocar ideias é lindo.
Todo cliente é especial e tem alguma coisa boa para nos transmitir. Todos que vêm aqui têm uma história de vida ou perguntam sobre a minha vida. Saber da experiência de vida de cada um é uma conversa muito boa, porque a gente leva para frente. Nos ajuda a encarar a vida de uma maneira mais positiva.
E a ostra é o meio para que isso tudo aconteça.”
Exposição Fotográfica Virtual TAINHA, UM LANCE NA PANDEMIA De Sandra Puente e Nilva Damian
TAINHA, UM LANCE NA PANDEMIA
Exposição Fotográfica Virtual de Sandra Puente e Nilva Damian
A pesca artesanal da Tainha começou em maio deste ano com muitas incertezas em plena pandemia e em meio ao caos do COVID 19. O distanciamento entre os grupos de pescadores, o uso de máscaras e álcool gel nas mãos, foram outros desafios para a pesca. Mas apesar de todos os procedimentos de segurança, essa tradicional prática cultural se manteve presente, afinal a pesca da tainha não é só lançar a rede e fazer o cerco, ou lançar a tarrafa e pegar algumas tainhas que distraidamente se perderam do cardume, é um verdadeiro ritual, que acontece até mesmo antes do amanhecer.
Os personagens dessa rica cultura são: os “vigias” que nas primeiras horas do dia, nos pontos mais altos das praias, observam a chegada dos cardumes; os barqueiros que ao nascer do sol já estão de prontidão no seu “Rancho de pesca”, preparando o barco para sair com suas quilométricas redes amarradas, para remar em direção ao alto mar e fazer o cerco do peixe, e por fim, os puxadores que fazem parte da força desta ação, para arrastar o “grande lance” até a areia.
Esta atividade pode levar horas, às vezes dias inteiros, na espera do cardume. Todos sabem muito bem seu papel neste ritual e numa força conjunta fazem o cerco. Além dos pescadores, os moradores das comunidades também participam no trabalho do arrasto da rede para areia, que muitas vezes vem carregado com centenas de quilos de peixes e é claro são recompensados com tainhas fresquinhas.
Registrar este ritual é uma maneira de investir, valorizar e conservar a grandiosidade dessa cultura que abraça a população de Florianópolis e que nos ensina que a união nos fortalece e que somos iguais perante a natureza.
“Tainha, um lance na Pandemia”, é o nome da exposição de fotografias inédita de Sandra Puente e Nilva Damian. Conta com 16 imagens poéticas sobre a pesca artesanal da tainha nos meses de maio a julho, nas praias da Barra da Lagoa, do Campeche, do Pântano do Sul, do Costão do Santinho e de Ponta das Canas. Com o intuito de mostrar como essa prática se manteve em meio a uma pandemia e como essa influenciou e interferiu na cultura pesqueira artesanal da Ilha de Santa Catarina.
Fotógrafas: Sandra Puente e Nilva Damian
Tratamento de Imagens: Brenda Mello Cardoso
Ostras coisas do mar
Nilva Damian e Sandra Puente
“Ostras, coisas do mar” Um livro que conta através da fotografia e de forma poética a cultura do cultivo das ostras e o efeito desta atividade na vida diária dos maricultores nas comunidades de Sambaqui, Santo Antônio de Lisboa e Ribeirão da Ilha. O livro contém fotos de Nilva Damian e Sandra Puente com textos e registros documentais do jornalista Paulo Clóvis Schmitz.
Este projeto foi aprovado pela Lei 3.659/91 Municipal do Incentivo à Cultura em 2017 vinculado a Fundação Franklin Cascaes e Prefeitura de Florianópolis.